terça-feira, 19 de junho de 2007

MULHER E FILHO SALVOS PELO SAPO CUNAUARU

Era um camarada que morava no centro. Só ele e a esposa dele. Quando foi um dia, um tempo, ela deu à luz um menino. Meninozinho. Aí tava recém nascido. Aí ele foi... Disse, mulher vou ver se mato uma caça hoje. Aí foi caçar. Semana em semana ele matava uma caça pra eles comerem. Só morava ela e ele, depois apareceu o filho. Aí ele foi pro mato nesse dia. Foi pro mato. Quando lá, o Jurupari mato ele. Jurupari mato ele. Aí quando foi já de noite... A mulher muito apavorada esperando pelo marido. Aí chegou ele e disse: Mulher! Oi.. Aí chego o homem. Olha, eu trouxe um quarto de veado aqui pra ti fazer a janta. Aí a mulher saiu, deixou a criança lá na rede. Veio vê era o quarto do marido dela.
Ele disse cadê o menino?
Ta aqui.
Aí ele pegou o menino. Quando colocou no braço. Aí dormiu. Aí dormiu. Aí ela pegou um bocado de breu que o marido dela tinha num canto. Colocou num tacho. Tacho pequeno. Aí derreteu. Aí ela foi devagar, tiro o menino do braço do bicho. Colocou na rede dela. Aí foi, derramou o breu. Tava dormindo de boca aberta. Derramou o breu na boca dele. Derramou na boca do Jurupari. Aí pegou o menino e correu caminho da bera. Aí o bicho já vinha gritando. Queimado, mas vinha gritando atrás dela. Aí tinha os Cunauaru cantando assim.
Aí ela disse assim: ô Cuanauaru se tu fosse gente tu me valia com meu filho que esse bicho vai me comer. Me salvava dessa... Do bicho não me come. Me salvava. Andou um pedacinho quando ele viu. Ei! Quem é que fala? E o bicho já vinha perto. Sô eu que to pedindo socorro aí pro coisa... Pro Cunauaru que me de um abrigo pra me esconde desse bicho. Que esse bicho vai me comer com meu filho. Eu não tenho pena tanto de mim como tenho de meu filho. Se me comesse tudo bem, mas comer eu e meu filho. Aí ele disse, pois não, pode entra pra cá. Aí diz que ela olho era uma casa grande. Aí ela entrou pra lá. Deus que nós vamos matar o bicho. Aí fechou a casa, eles foram pra lá, mataram o bicho. Quando foi de manhã ela foi vê o bicho. Ela disse vem vê o bicho que comeu seu marido. Já estava morto. Ela disse e agora. Agora você vá embora pra sua casa. Não pra casa, a senhora baixe pra bera. Aí acompanharam ela aquele pessoal. Era muita gente. Pegaram as coisas dela, levaram e deixaram na casa dela. Aí voltaram. Aí quando foi noutro dia ela veio. Pensou. Convidou os parentes dela, do marido dela e vieram buscar as coisa dele daí do centro. Chegaram lá na paragem não viram casa, não viram nada. Viram só um pauzão onde era a casa deles. Do Cunauaru. Lá morava tudo que era Cunauaru. Se transformaram tudo em gente e levaram ela lá na casa dela.
(Rui - Comunidade de Paraíso - Rio Tapajós)

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Foto: Renata Enz Rino

QUEM SOU EU

Londrina, Paraná, Brazil
Antropólogo e professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina. Agrada-me pintar, fotografar, ler e escrever.

ARTE

"O mesmo objeto pode expressar significados diferentes para diferentes sujeitos, ou para um mesmo sujeito em diferentes momentos... É a relação com a fantasia do sujeito que o objeto relacional se define... " Lygia Clark

"É o espectador que realiza a obra". Marcel Duchamp

"Ver um mundo num grão de areia". William Blake

"Fui à floresta porque queria viver profundamente... e sugar a essência da vida". Thoureau

Museu do Olho. Curitiba, 23 de fevereiro de 2008.

HAI KAI

Hai Kai - "É um poema sintético com a menor forma de traduzir em palavras o sentimento que vai na alma ... é o leitor que faz da imperfeição ... uma perfeição de arte ... é uma obra aberta". Yone Noguchi - The spirit of japonese poetry.

NOTAÇÕES